terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"A palavra é a única coisa que nos regula, moço, tenho vontade de dizer. Dá a oportunidade de um entendimento antes que nos tornemos cadáveres ou assassinos. Foi com ela que conseguimos tirar as patas do chão e alcançar uma coisa no ar: algo que não sabíamos o que era, nem antes nem agora, mas que queríamos muito. Daí que cada frase contém a memória desse esforço evolutivo, costumo dizer aos meus alunos. Por isso, uma conversa é uma negociação para que não nos tornemos inimigos. Está tudo desabado lá dentro; temos, porém, de exibir nossa melhor prataria, usar corretamente os garfos."

A vendedora de fósforos. Adriana Lunardi.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Melancolia.
Uma saudade imensa de coisas que não sei definir.

domingo, 16 de outubro de 2011

"Do you realize that everyone you know someday will die?
And instead of saying all of your goodbyes
Let them know you realize that life goes fast
It's hard to make the good things last
You realize the sun doesn't go down
It's just an illusion caused by the world spinning round"

Do you realize? - The Flaming Lips

sábado, 2 de julho de 2011

Gosto de simplesmente perder o sono cedinho, acordar sem que seja necessário o barulho chato de um despertador tocando. A casa vazia e o silêncio das manhãs de sábado quebrado pelos passarinhos que passeiam pelo jardim, tomam banho de piscina e fazem da ração das cachorras seu café-da-manhã.

A manhã de sábado traz consigo uma esperança despretensiosa, mas que, de tão modesta e descomplicada, faz parecer que nada é impossível. Nenhum jogo é perdido, nenhuma prova é infazível e o tempo - que anda tão curto - de repente se espicha.

E faz com que músicas tristes cantadas por mocinhas de voz doce, ainda que grave, fiquem tão mais bonitas e inspiradoras...


"Yes, and the morning has me
Looking in your eyes
And seeing mine
Warning me
To read the signs
Carefully"

Nico - The fairest of the seasons

quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Na marca dos quatorze, talvez dos quinze, dava para adivinhá-lo vestido e alimentado por seus pais mas sem um centavo no bolso, tendo que deliberar com os colegas antes de decidir entre um café, um conhaque, um maço de cigarros. Andaria pelas ruas pensando nas companheiras de estudo, no bom que seria ir ao cinema e ver o último filme, ou comprar romances ou gravatas ou garrafas de licor com rótulos verdes e brancos. Em sua casa (sua casa seria respeitável, seria almoço ao meio-dia e paisagens românticas nas paredes, com um vestíbulo escuro e um porta-guarda-chuvas de carvalho ao lado da porta), choveria devagar o tempo de estudar, de ser a esperança de mamãe, de parecer com papai, de escrever para a tia de Avignon. Por isso tanta rua, o rio todo para ele (mas sem um centavo) e a cidade misteriosa dos quinze anos, com suas marcas nas portas, seus gatos estremecedores, o saco de batata frita de trinta francos, a revista pornográfica dobrada em quatro, a solidão como um vazio no bolso, os encontros felizes, o fervor por tanta coisa incompreendida mas iluminada por um amor total, pela disponibilidade parecida com o vento e as ruas."

"As babas do diabo". In: As armas secretas. Julio Cortázar.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A gente acha que a cura pra todos os males é esquecer o mundo e passar o dia todo de pijama em casa em uma terça-feira fria. Não é, porque, veja só, o mundo não esquece a gente. Ele está ali do outro lado da porta de braços cruzados batendo o pezinho impacientemente, esperando que você deixe de ser infantil e vá fazer o-que-tem-de-ser-feito. Afinal, além de você, não há ninguém que possa fazê-lo. E aí você, envergonhado, se vê obrigado a tirar as pantufas e recuperar o tempo que perdeu - o que, geralmente, é muito mais trabalhoso.

Dias assim servem só pra mostrar que, ao contrário do que possa parecer, por mais cansativo que seja fazer a coisa certa, ela sempre será a coisa certa a se fazer. Porque nem todas as horas de sono na cama mais macia e quentinha, nem o melhor chocolate quente e o filme mais bonito são tão satisfatórios quanto chegar ao fim do dia exausto, mas com aquela sensação boa de dever cumprido.

domingo, 19 de junho de 2011

Fugir à luta

Quando a vida exige que eu seja prosa, eu resolvo ser poesia. Se é preciso objetividade, eu quero rodear. Parece que qualquer coisa que estava há muito adormecida aqui achou por bem despertar justo agora, por puro capricho, só porque agora não pode, agora não dá. Agora não pode folhear um livro já lido e reler as páginas preferidas, marcadas por orelhas, nem assistir àquele filme que, dizem, é tão bonito, nem de repente voltar a se interessar por fotografia. É tempo de perseguir um objetivo sem se deixar distrair por futilidades, banalidades, frivolidades. Mas por que, então, só o que me interessa agora é o que não tem qualquer utilidade prática?

"Pois é preciso amar o inútil porque no inútil está a Beleza."

Eu sei, Lygia.